10 de jan. de 2013

FELIZ É SER PLURAL


Existem momentos de nossa jornada que tal qual uma tela do genial pintor nipônico Hokusai, eterniza em nossa memória uma pintura xilográfica de momentos que nunca mais serão esquecidos. Lembro-me dos meus 16 anos, início da década dos anos 2000, quando ainda um garoto volátil, apaixonado por rock n'roll, pedi ao meu pai para ir a Casa do Poeta (Eliakin) – na “distante” cidade Santa Cecília - a fim de assistir uma banda de rock local que se apresentaria ali. Em tempo: Naquela época, Boa Vista não tinha tantas opções de entretenimento como nos dias atuais, e qualquer show, apresentação ou espetáculo, reunia no mesmo lugar todas as tribos com numa romaria cultural. 

O show em questão era de uma banda até então desconhecida na época, atendida pelo nome de Mercedez Band. Um grupo de rock roraimense peculiar em sua formação, com voz, guitarra, baixo, bateria e flauta! Tempos depois, numa de minhas infinitas tardes garimpando CD's na loja de discos da cidade, encontrei uma bolacha que me chamou a atenção de imediato. “Bem Vindo Rock N'Roll”, tratava-se de um disco coletânea com participação de quatro bandas locais, entre elas LN3, Garden, Atecubanos e Mercedez Band, a banda com formação peculiar de que tanto gostei. 

Mercedez Band do Túnel do tempo: Betina, Pablo, Filomeno, Alfredo e Fatinha

Tempos depois, a banda encerrou suas atividades devido a mudança de cidade de alguns integrantes, mas na minha memória, e no meu acervo, ficou aquele disco único que registrou o principio de uma nova fase que o rock roraimense passava naqueles tempos. Também ficou guardado na memória, muitos shows que acompanhei de todas aquelas bandas do disco que havia comprado, mas inegavelmente, minhas preferidas sempre foram LN3 e Mercedez. A primeira, por ter no som e na atitude de palco, o exemplo do que eu queria fazer com relação a minha carreira, e a segunda, pela experiência dos músicos, a peculiaridade do som, que anos mais tarde também me influenciariam a mudar o direcionamento em termos de composição do meu grupo de rock. O experimentalismo e a liberdade sonora da Mercedez, o vocal feminino, e suas músicas autorais com pitadas de música brasileira somado a fórmula básica do rock n'roll, sempre foram o diferencial em relação as toneladas de bandas cover e de proveta que surgiram naquela época. 

Os anos se passaram, e como uma flecha do túnel do tempo penetrando vorazmente meu presente, soube que a lendária Mercedez Band estaria retornando aos palcos de Roraima para uma apresentação única no palco mais plural e sagrado da música roraimense na atualidade: A Casa do Neuber. Minha euforia foi tamanha com esta notícia que não pensei duas vezes em pedir a eles para ter a honra de fazer o show de abertura com minha banda Veludo Branco. Queria dividir o mesmo palco com um dos grupos que anos atrás me inspirou a defender minha arte, minha música, e me apontou caminhos que me trouxeram aonde estou hoje. 

Veludo Branco: Primeira banda do rock roraimense a tocar na Casa do Neuber

Tal qual era nos tempos da Casa do Poeta, uma romaria cultural se fez presente para esta noite que entraria para a história do rock roraimense. A Veludo Branco teve a honra de ser a primeira banda local a pisar no palco da Casa do Neuber, e confesso, que energia tem aquele pequeno e aconchegante espaço! Desejei, desde que a Casa abriu, estar em cima daquele palco, atingir um novo público que vai além do nosso universo comum, além de nossa tribo de camisas pretas. Sempre quis levar minha música ao maior número de pessoas possíveis, e oportunamente aquele era o lugar certo para se fazer isto. Mais gratificante ainda foi abrir a noite para um dos grupos mais emblemáticos do rock local, e nos apresentar para uma platéia seletíssima de artistas locais, jornalistas, amigos, e apreciadores da música local. Voltei 12 anos na memória enquanto estava em cima daquele palco. Não havia lugar melhor para se estar naquele momento fazendo o que mais amo da vida: Rock n'roll! 

Veludo Branco e o poeta Rodrigo Mebs (Ditambah) numa pregação da igreja interplanetária do Reino Ditâmbico


Após nosso show, foi a vez da Mercedez subir ao palco. Tantas recordações vieram à tona no meu peito. Tantas lembranças dos tempos de Casa do Poeta, do Espaço Rock do Sesc... Um filme da minha vida passou em segundos. Ver novamente Pablo Varela, Alfredo Rolins, Fatinha, Betina com participação especial de Vitor Piani, foi emocionamente e indescritível! Poder ouvir novamente canções que fizeram parte da minha adolescência, como MITIFICA de autoria da banda, DO BEM E DO MAL, parceira de Pablo Varela e George Farias, versões experimentais de sucessos do rock nacional, como a canção “Comida”dos Titãs, não só me levaram a um torpor nostálgico, mas também foi inspirador. Tal qual um bom vinho, o som deles ainda continua deliciosamente e despretensiosamente atual e cativante. 

A lendária Mercedez Band no palco da Casa do Neuber - Pra história

Esta noite, ainda recente na minha memória, ficará marcada para sempre, por tudo que ela representou. Subi num dos palcos que mais desejei estar nesta cidade até então, dividindo-o com uma das bandas mais legais que o rock roraimense já teve em todos os tempos, tocando para uma platéia única que só a Casa do Neuber consegue reunir. Sempre digo que os todos os sonhos são possíveis, só basta acreditar e persistir e nunca os versos da canção “Plural” do poeta Eliakin Rufino fez tanto sentido como faz pra mim ao vivenciar esta experiência: “Tentei por muito tempo ser uma pessoa singular... Ter um só caminho, ter um limite, Um só amor, um só lugar... O que eu não queria era ser comum, o que eu não queria era ser normal... Agora não, agora eu sou feliz sendo plural...” Feliz é ter sonhos e realizá-los, feliz é fazer aquilo que se ama, com quem se ama e para quem se ama... Feliz é ser plural. 

* A banda Veludo Branco agradece a Casa do Neuber e Mercedez Band pelo espaço. Foi dukaraima!

Fecha a conta.

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