1 de mar. de 2016

SENTA A PÚA – SÉRIE ESPECIAL – O APARTHEID OPRESSOR

Celebrando 6 anos de história, o Blog Roraimarocknroll revisita nessa série especial de 7 episódios a sua trajetória, relembrando os fatos marcantes do rock roraimense que fez do portal a maior referência em conteúdo rock do extremo norte do Brasil. 

Por Victor Matheus – www.roraimarocknroll.blogspot.com

Ao planejarmos qualquer projeto cultural, devemos sempre estar atento aos seus desdobramentos, prever a lei da causa e efeito, e que frutos podem ser gerados nesse processo. Quando criei a Operação Cavalo de Troia, tinha um objetivo claro em mente: Apresentar para as bandas da cena rock roraimense e para o cenário cultural local, uma alternativa de autogestão e de produção de eventos, antagônica ao modelo do FDE que ajudei a fomentar em Roraima (alimentando pela ilusão do discurso farofeiro cheio de frases de efeito propagado pelo Núcleo Duro Nacional, enquanto estava filiado ao Circuito) e que estava em ascensão no mercado local. 

A proposta defendida pelo Blog nunca teve a intenção de rivalizar com o modelo do Coletivo Canoa Cultural / Fora do Eixo, muito menos polarizar a cena como acabou acontecendo. A verdade é que minha intenção sempre foi e ainda hoje é somar ao cenário cultural, e dar outra visão para as bandas e o mercado local, principalmente porque no passado, quando ajudei a fundar o Tomarrock e rolou o apartheid na cena entre bandas covers e autorais, presenciei os efeitos negativos dessa disputa ideológica desnecessária e burra, afinal, era tudo rock n’ roll, e apesar de sempre compor desde a minha primeira banda, também amava o rock cover, o qual toquei muito, em bandas tributo como a High Voltage (Cover ACDC) e bandas cover como Pandora, Sobrinhos do Tio Neco, além de curtir muitas bandas de amigos que tocavam apenas pelo prazer, como Lepthospirose, Soil, Estado de Coma, Sancthus, Ironia, Attitude, Filhos da Revolução, Sofia Não foi a Escola, e não queriam criar música própria como outras bandas faziam. A liberdade de ser o artista que quiser, entende? 


Com o tempo e o amadurecimento, isso ficou muito claro para mim, e o peso na consciência foi tamanho com a experiência das tretas do cover versus autoral, que eu estava disposto a me redimir o mais rápido possível do caos que ajudei a propagar defendendo exclusivamente o rock autoral. Evitaria a qualquer custo ver aquele episódio se repetir novamente. Infelizmente eu estava muito enganado, e o que aconteceria no ano de 2011 com o Blog Roraimarocknroll, mudaria para sempre a minha Vida, em todos os sentidos. 

Após a polêmica do Grito Rock Boa Vista, o start da Operação Cavalo de Tróia foi dado, mas o que viria depois? Apenas fazer críticas, resenhar shows, não era o suficiente para conseguir mudar os paradigmas da cena, muito menos despertar nas bandas o interesse nesse modelo diferente de autogestão que eu estava propondo. 

Era preciso fazer mais, porém, sozinho eu jamais conseguiria qualquer coisa. Quem era o Victor Matheus na cena rock daquela época? Um artista com alguma experiência em produção cultural, passagem por algumas bandas, amadurecendo com os shows e viagens da banda Veludo Branco no cenário independente brasileiro e extremamente incomodado com os rumos que o rock roraimense estava tomando, semelhante ao que me deixou chocado quando participei do Congresso FDE em Belém do Pará no ano anterior. 

Ostin no ultimo festival realizado no Sesc Centro
o Skinni Rock Festival Bao Vista

A avalanche de críticas e ameaças que recebi não me intimidou e segui em frente. Logo em seguida ao alvoroço causado pela cobertura do Grito Rock Boa Vista, montei um projeto jornalístico, botei debaixo do braço e fui até o jornal Folha de Boa Vista com toda a humildade de quem me conhece, apresentar a amiga e jornalista Cyneida Correia a minha ideia, uma coluna no jornal que falasse exclusivamente sobre o rock de Roraima. 

2º Edição da Coluna Roraimarocknoll no jornal Folha de Boa Vista

No dia 05 de maio de 2011 estreava no jornal Folha de Boa Vista, a coluna Roraimarocknroll, um espaço semanal para divulgar o rock independente de Roraima. Consegui finalmente realizar um dos grandes sonhos da minha Vida, tornar-me escritor de jornalismo, ser reconhecido por isso, e escrever sobre o que mais amo: O Rock. Agora com um espaço semanal para promover a cena, o blog, e o meu trabalho, eu poderia dar sequência aos projetos em mente para tomar de assalto o rock macuxi. 

A minha alegria ficou completa quando, além de escrever a coluna do Blog, também ganhei espaço na Folha de Boa Vista para publicar semanalmente na Coluna Opinião, de maior prestígio do Jornal, um artigo da minha autoria para falar sobre cultura e afins. Esses artigos deram origem a outro blog meu, o Vinho &; Prosa (www.vinhoeprosa.blogspot.com) e ajudou a projetar meu nome no meio jornalístico de Roraima, e que me honrou muito e deu futuros problemas também (risos). 

Kandelabrus, durante show no Skinni Rock Festival
uma das bandas mais relevantes do rock roraimense entre 2011 e 2013

Enquanto a coluna Roraimarocknroll foi crescendo em popularidade e reconhecimento, o blog tendo cada vez mais acessos, e os primeiros mitos sobre a minha índole sendo espalhados nos bastidores do rock local, vi surgir outra coluna logo em seguida a minha no jornal Folha de Boa Vista claramente feito para rivalizar em pauta e conteúdo com a nossa coluna, o Canoa Pop, de responsabilidade, claro, do Canoa Cultural. Foi a partir daí que ficou evidente para mim e os meus apoiadores, que um novo apartheid do rock macuxi estava em curso, para meu total desagrado e decepção. 

A minha esperança de somar a cena e ser mais um caminho para ajudar a colocar o rock roraimense em evidência se esvaíra com este episódio, e a união entre produções culturais diversas, que tanto preguei e defendi após a polêmica do cover versus autoral, jamais voltaria a reinar no rock roraimense, até os dias de hoje, como qualquer um, com o mínimo de interesse pelo rock local, deve ter conhecimento. 

Skinni Rock Festival Boa Vista
mudou a história dos festivais de rock em Roraima

A política do não pagamento de cachê aos artistas já era bem conhecida nesse período. À medida que mais bandas surgiram, principalmente autorais, como Elvis From Hell, Insert Rock, Ostin, AltF4, Kandelabrus, Reclive, H.C.L, Rolling Bones, Hopes, Jamrock, Kadima, entre outras, o mercado ficou propício para que eu pudesse executar uma nova fase da Cavalo de Troia, e esta, provocaria um verdadeiro caos e os seus desdobramentos me incomodaria por muitos anos, prejudicaria minha vida profissional e pessoal, e me distanciaria por definitivo de muitas amizades cultivadas desde a minha adolescência, principalmente pelas mentiras ditas sobre a minha pessoa para me prejudicar. Infelizmente, eu estava sendo o centro das atenções e polêmicas por defender o rock roraimense e a valorização das bandas. 

Em seguida a Coluna Roraimarocknroll, lancei o Skinni Rock Festival Boa Vista, um Festival de Música voltado às bandas de Roraima, com o objetivo de fomentar e agitar a cena rock roraimense, unindo música, sustentabilidade, responsabilidade social e entretenimento de acesso rápido e custo baixo ao público, valorizando toda a cadeia produtiva do evento e apoiando o cenário cultural de Roraima, em especial o rock, e com um detalhe importantíssimo: O pagamento de cachê para as bandas. 

Festa de Lançamento do Skinni Rock Festival no Chacrinha Chopps

Na época o Skinni Rock Festival foi um grande sucesso, sobretudo pelo formato inovador, com votação do público no blog para eleger as bandas que participariam, totalizando mais de 11 mil votos. Todas as bandas que tocaram no Festival receberam cachê, em dinheiro, e concorreram através de votação em cédula no dia do evento, a prêmios especiais como ensaio fotográfico, pacote de ensaios em estúdio profissional, e a gravação de um single patrocinado pelo blog, algo inédito e nunca feito antes na cena rock local. 

A programação do Skinni foi a mais extensa em termos de festivais em Roraima, com 6 semanas de duração entre pocket shows no Chacrinha Chopps e UFRR, e uma prévia seletiva realizados na Chopperia Chacrinha, com votação para a escolha da última banda do line up. 

Banda Elvis From Hell, rebatizada de Johnny Manero 
por influência do Blog Roraimarocknroll
em video promocional do Skinni Rock Festival

O evento principal do Skinni aconteceu no Espaço Multicultural do Sesc Centro, o último festival de rock feito no templo do rock roraimense antes do seu fechamento definitivo, e o que teve a melhor estrutura para shows naquele espaço, com um telão com projeção de imagens de cada banda, produzidos pelo Blog, movies e canhões de luz, som compatível com o espaço. 

Além de todas essas novidades, campanhas sociais e divulgação das bandas no cenário local e regional, o Skinni Rock Festival teve cobertura nacional, o primeiro evento do estado, com matéria de destaque no Caderno B do Jornal Folha de São Paulo, e do portal Dynamite, escrito pelo jornalista Humberto Finatti. A equipe de produção do Festival também ganhou diárias de produção em dinheiro, o que não era comum nos eventos de rock em Roraima. 

Prévia Seletiva do Skinni Rock Festival no Chacrinha Chopps

Participaram do Skinni Rock Festival várias bandas da cena rock local e do Amazonas. Nos pocket shows houve apresentações das bandas Veludo Branco, Elvis From Hell (rebatizada de Johnny Manero, por influência do blogger, apesar de nunca reconhecerem publicamente isso), Haadj, H.C.L, Sheep, Ostin, Jamrock, AltF4, Kandelabrus, Rolling Bones, Mr Jungle e Insert Rock. 

Tudo Pelos Ares convidando o público para o Skinni Rock Festival

O evento principal do Skinni contou com shows das 4 bandas mais bem colocadas na votação do blog, entre elas Ostin, H.C.L, Johnny Manero, Kandelabrus, e também da Mr Jungle (banda mais votada na prévia seletiva), Jamrock (banda convidada) e as bandas convidadas Dust Road e Tudo Pelos Ares, ambas do Amazonas , fortalecendo a parceria com a cena rock do Amazonas. 

Com o sucesso do Skinni Rock Festival Boa Vista, mostramos por A + B, para as bandas, nossos críticos e para a cena local, que era possível viabilizar eventos com lucro real, pagamento de cachê para bandas, diária de produção para equipe, sem financiamento público, e produzir muito material promocional como fotos e vídeos, como também promover a união da cena com o trabalho em conjunto de todos. 

Jamrock no Skinni Rock Festival Bao Vista

Isso deixou muita gente com inveja e pós-rancor, porque provamos que as falácias e as ideias marxistas e neocomunistas do FDE poderiam ser desconstruídas com atitudes e ações simples como as que fizemos no Skinni, bastando apenas um pouco de força de vontade e espírito de equipe entre todos envolvidos nesse tipo de projeto. 

Em consequência do sucesso do festival, criamos o primeiro selo de musica independente de Roraima, o Selo Roraimarock Discos, para dar suporte às bandas independentes, não ligadas ao FDE que buscavam espaço no mercado da música sem precisar se submeter às regras do circuito. 

Johnny Manero, vencedora do Skinni Rock Festival

Iniciamos o trabalho do Roraimarock Discos com as bandas Veludo Branco, Garden (leia aqui) e Jamrock. A banda Elvis From Hell (rebatizada de Johnny Manero no meio da programação do Skinni), vencedora do Festival, gravaria um single e posteriormente seria lançado pelo RoraimaRock Discos, mas devido ao assédio do Fora do Eixo, preferiu abrir mão para evitar possíveis problemas com a Rede. Sobre tudo isso leia aqui. 

As bandas Garden e Jamrock também foram muito assediadas pelo FDE nesse período, devido a parceria com o Blog, já considerado inimigo público numero 1 da Rede. O resultado disso foi o encerramento da parceria do Blog com a banda Garden, e poucos meses depois com a banda Jamrock, restando somente a banda Veludo Branco no Selo. 

No caso da Jamrock, além do assédio do FDE, houve outro agravante. Numa atitude assumidamente irresponsável e imatura deste blogger, que na época agenciava a banda, parte do dinheiro arrecadado em shows e guardado com o blogger para a gravação do disco e custos da banda, foi utilizado emergencialmente sem aviso prévio numa viagem, e somente sendo prestado contas depois, o que provocou um mal estar gigantesco entre a banda e nós, mas resolvido com a quitação rápida da dívida e os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido. 

O jornalista Humberto Finatti e o blogger Victor Matheus
na redação da Folha de Boa Vista

Ainda hoje algumas pessoas desinformadas e mal intencionadas, ressuscitam essa história dos bastidores do rock local, modificando o seu conteúdo por razões que desconheço. Em outras palavras, espalham pelas minhas costas que sou um caloteiro, quando na verdade os fatos são esses expostos aqui, e tenho testemunhas para provar o que digo. 

Infelizmente quem houve esse e outros boatos sobre a minha pessoa, jamais teve a coragem de vir pedir esclarecimento meu pessoalmente para saber a real dos fatos, e prefere acreditar em mentiras propagadas sobre mim, por pessoas que desejam o meu mal, por inveja, rancor, ou sei lá o que mais, ao invés de procurar a verdade dos fatos. Espero que agora, esse assunto seja encerrado, enterrado e sepultado por definitivo, afinal, a história da Jamrock, do Blog, e minha como produtor cultural está intimamente ligada para sempre, e por meu intermédio, e disso tenho orgulho imenso, a banda conheceu o produtor musical Bebeco Pujucan, e o resto da história todos já sabem como foi. 

Mr Jungle, banda filiada ao FDE no Skinni Rock Festival Boa Vista

A Choperia Chacrinha Chopps foi uma grande parceira do blog nesse período. Com a cena fervendo, as tretas também (risos), o Chacrinha Chopps tornou-se a casa do rock autoral de Boa Vista. Depois do Skinni Festival, a banda Jamrock passou a tocar todas as terças na casa, ganhando cada vez mais público, e recebendo cachê por isso. Além da Jamrock, várias bandas locais autorais e covers passaram a tocar na casa do rock, também recebendo cachê, com a ajuda do Blog que divulgava as bandas e intermediava as contratações das bandas com a casa, numa sólida parceria que durou até meados de 2013. 


Veludo Branco e Johnny Manero no Chacrinha Chopps

Foram vários eventos organizados na casa do rock, entre eles o Festival Hey Ho Let’s Go, em homenagem ao dia mundial do Rock, Roraimarockn’roll – A Festa, shows com bandas do Amazonas, como Antiga Roll, Rhodes, vários especiais memoráveis, shows solidários entre outros. Foi um período de muito agito na cena, muitas tretas homéricas nas redes sociais, e muito divertido também. 

Ainda tenho boas lembranças desse período do rock roraimense, e mesmo com todos os problemas que me causou em relação aos mitos criados sobre a minha pessoa, sinto um orgulho imenso do que fiz nessa época, fortalecendo muitos laços de amizades, descobrindo muitas mentiras ditas sobre minha pessoa por pessoas que naquele momento ainda julgava amigas, parceiras e irmãs, e reconhecendo que meu legado já tinha sido deixado para as futuras gerações do rock roraimense se não fizesse mais nada dali em diante. 

Final da Festa Roraimarocknroll no Chacrinha Chopps

O ano de 2011 foi definitivo na trajetória do Blog Roraimarocknroll, da banda Veludo Branco e deste blogger que escreve estas linhas. Quem viveu e respirou esse período do rock local deve sentir o mesmo que sinto uma maldita ressaca de chopp batuta, recheada de nostalgia, e com a certeza de que fizemos história, ganhamos mitos, mas acima de tudo, mostramos que é possível fazer acontecer os nossos sonhos e projetos, sem precisar passar por cima de nada ou ninguém, sem mentiras, sem manipulações, sem intrigas, apenas da forma certa, justa e transparente, como deve ser para qualquer coisa que fizermos em nossa vida. Se não houvesse inveja, e mais respeito por quem semeou a discórdia no rock local nessa época, talvez hoje tudo seria bem diferente, e principalmente, as bandas, as estrelas do show, seriam valorizadas realmente como devem ser. 

Quem sabe isso um dia mude, mas enquanto não acontecer, lembraremos como foi no passado, já distante do rock local, onde bandas eram valorizadas, ganhavam cachê, o público apoiava, os lugares onde tocava rock sempre estavam lotados, e nós, quanto público, artista e produtor cultural, nos divertíamos muito, com a certeza de estar fazendo o melhor em prol do rock roraimense. 

Continua...