21 de fev. de 2018

MATOS ALÉM


Por Victor Matheus - Blog Roraimarocknroll

Dia quente, época de carnaval, um sábado na Serra do Tepequém. Bar Platô 2112, muita arte no éter, sorrisos cruzando o caminho, um palco, música, movimento, som... feito adolescentes aflorando para as descobertas da vida, dois coroas, que já cruzaram meu caminho em outros carnavais, com mais três irmãos e hermanos, fazem um som autenticamente soft rock.

Cheguei no bar, algumas cervejas correndo pelas veias já etílicas, a filha livre correndo sobre arte impressa com tinta no piso, e aqueles dois coroas em cima do palco, fazendo um rock inebriante de duas notas, cantando a plenos pulmões, suficientes para pescar minha atenção:


“A gente sempre andava a mil
aqui no norte do Brasil
a gente até parou um rio...
só pra nadar, só pra nadar...”


Feito uma flecha psicodélica acertando o alvo, fui pescado pelos versos autênticos que já parecia conhecer desde sempre. Comecei a nadar naquele som, joguei a mente para outras frequências, deixei o corpo voar.

Fim de ensaio. Descem do palco. Compartilho minha emoção e desfilo meu vocabulário de adjetivos sinceros para os dois. Descubro que o som é um rock autoral. DNA makuxi, parido nos anos 90, com mais dois amigos, e para meu êxtase, ainda havia sido registrado com mais sete canções em um disco, inédito.

Descobri que os dois já foram, e ainda são, autênticos old rockers de espírito eternamente juvenil, felizes e inquietos como garotos que sobem ao palco pela primeira vez para um show enquanto contam retalhos do seu passado rock n’ roll. 

Absorvo, embriagado, tudo aquilo, tentando memorizar cada música citada, algum retalho do passado que possa me dar referência de uma época que eu ainda mal havia criava pelos no rosto mas amava como se tivesse vivido intensamente. Sem pestanejar intimei os dois para me enviarem aquele som!

Dias depois, aviso de correspondência na caixa de e-mails. Descompactei as músicas do arquivo gerado pela mensagem recebida. Sentei calmamente na cadeira, coloquei o fone de ouvido e apertei o play... 

Fui pescado pelo Matos Além. Como quem deflora (devora) uma virgem, em noite de lua cheia na beira de um igarapé, passei a degustar diariamente cada canção de um disco do rock de Roraima que talvez nunca ganhe a luz do dia, ganhe o mundo, mas já faz parte do meu, de histórias que estou escrevendo, e de outras ainda por gravar nestas linhas.


Fecha a Conta.





Foto: Banda Matos Além
5º Tepequém Jazz & Blues Festival
 Bar Platô 2112, Serra do Tepequém, Amajari,Roraima, Brasil
11 de feveirero de 2018
Créditos de Akurima Pro Videography

Um comentário:

Ivo F. Almada disse...

Vc captou e catapulou a sacada da *Matusalém", bem além de muitos além n blues n roll!