21 de dez. de 2012

QUERO SABER BEM MAIS QUE MEUS VINTE E POUCOS ANOS


Por Victor Matheus

Hoje completo 27 anos de vida, e diga-se de passagem, 27 ciclos bem vividos intensamente consumindo essa vida até a última ponta com tudo que me é de direito. Quando olho para as páginas viradas do meu passado, uma erupção vulcânia de emoções explode no meu peito e não disfarço um sorriso.

Tive meus tropeços, meus revés, meus desabores, minhas frustações, minhas decepções como qualquer outra pessoa normal que pisa neste mundo... Mas tive muito mais a celebrar da vida e comemorar até agora. Torto ou reto, me tornei o que sou hoje, e no fim das contas, tem valido a pena a jornada para conquistar meus sonhos em vidae deixar minha marca na historia do tempo.


Nasci no ano que o Brasil deixou de ser uma ditadura militar e Cazuza cantou no Rock in Rio “Pro dia nascer feliz”... Em 87 já ensaiava em frente as câmeras, juntamente de meu pai, os primeiros acordes e cantorias... Vi a primeira copa do mundo sabendo o que é ser humano neste universo em 90, e nunca entendi a tristeza de todos pelo Brasil ter perdido, pra mim era só mais um jogo de futebol, mas vibrei como um louco quando conquistamos o Tetra em 94. Tinha a cabeça raspada igual do Ronaldinho e já era fã de ACDC e Black Sabbath.

Quando busco na memória a primeira lembrança de minha infância, ainda morando em Porto Alegre, me vêm imediatamente 3 momentos marcantes: Uma viagem de trem a Santa Maria -RS que fiz com meus pais na época de natal, aos 2 anos de idade, a ida, em pleno inverno gaúcho, agasalhado com blusão de lã, ao pequeno circo instalado na praça do bairro onde morava, e o dia que andando de bicicleta com rodinhas, caí na vala e fiquei todo coberto de … bem, imagine você uma criança de 3 anos ensopada de esgoto entrando na casa e sua mãe desesperada aos berros tentando compreender o que estava acontecendo... inesquecível e nojento! (risos) Durante minha jornada ainda contabilizei dois braços quebrados, uma hepatite que quase me ceifou a vida, 3 dengues, algumas infecções, disenterias, 4 dentes extraídos e 11 tatuagens.


Ja em Boa Vista, em 90, assisti pela primeira vez um filme no cinema, levado pelo meu pai, no Cine Roraima, localizado na Avenida Jaime Brasil (hoje sede de lojas comerciais) o filme “Gaucho Negro”, estrelado por Xuxa Menegel e Gaúcho da Fronteira. As poltronas daquele cinema hoje fazem parte das ruinas do Teatro Carlos Gomes, o mesmo que anos depois me recebeu para fazer shows com bandas de rock, sendo um desses especial e marcante em minha vida, quando, em 2003 realizei com a banda Papa Velhas – formada por amigos de escola – o Tributo ao Mamonas Assassinas. Nascia naquela experiência em 90 uma paixão insana pela sétima arte, que juntamente com a música que desde sempre fez parte do meu DNA, e a escrita que hoje me traz a estas linhas, moldou minha vida para ser o que sou hoje.


Durante a infância fui uma criança assumidamente estranha e introspectiva, pois não entendia certas coisas do mundo e porque havia tanta coisa de ruim... Perdi as contas de quantos animais de estimação tive, entre papagaios, periquitos australianos, cachorros, mata matás, e ramisters, sendo o mais especial deles meu porquinho Chico, um porco mestiço que ganhei de presente e tratava com muito amor e carinho, até que no natal de 93 meu pai e meus tios o mataram para a ceia de natal. Depois disso nunca mais comi porco e odiei papai noel! O bom velinho virou meu inimigo numero 1. Por causa dele perdi o Chico e minha inocência também. Minha revolta foi menor quando descobri que coelho da páscoa não põe ovo, e que nunca ganharia o prêmio máximo ao completar o álbum dos cavaleiros do zodíaco.


 Atravessei a adolescência de forma tortuosa, até compreender que a vida não é conto de fadas que lia nos livros. Descobri a malícia do mundo, e como as pessoas podem ser egoístas e ruins. Aí veio o de sempre: primeiro beijo, primeira namorada, primeira transa, primeiro trago, primeira dor de cotovelo e por aí se foi, como todo seriado de malhação, paixões, intrigas e tristezas... Foi neste período que o rock n'roll me salvou pra sempre! Abandonei os cabelos compridos de jovem rebelde, a velha camisa verde do Che Guevara, calça jeans rasgada, o all star cano longo que não vendia em Boa Vista e resolvi me reinventar. Resolvi ser uma “pessoa normal”. Entrar pra academia, tratar das espinhas, usar gel no cabelo, ir nas festinhas descoladas, dar uns pegas nas patricinhas da cidade e me encaixar nos padrões medíocres da sociedade local.



Chegando a maior idade dos 21 anos, percebi que essa vida de “fachada” nunca foi pra mim... Recomecei tudo de novo e abracei a música por definitivo. Larguei estudos e resolvi arriscar de novo. Não estava mais satisfeito em apenas tocar minha guitarra e escrever versos, eu queria cantá-los pela minh voz. Nascia a Veludo Branco. Foi duro no começo, ainda mais para mim, uma pessoa que sempre teve medo de cantar por não ser afinado... Entre vaias, latadas e críticas, eu resisti, me esforcei, e com minha banda Veludo Branco alcancei todos os sonhos que tive na adolescencia em relação ao rock n'roll. Gravei discos, fiz turnês, toquei com meus ídolos... Resolvi também mudar de lado, e passei a escrever sobre rock n'roll, a produzir shows, festivais e eventos, e hoje tenho mais do que poderia imaginar por causa do rock, e por intermédio dele conheci o amor da minha vida, Paula Marini.



Mal sabia eu, que aquela mulher incrível que conheci em 2004 pelas salas de bate papo do IRC seria um dia minha esposa, e mais que isso, me daria o maior presente que um homem pode receber da vida: Uma filha. Meu mundo virou novamente do avesso, e quando eu pensava que já tinha sentido tudo de extremo em relação a emoções, me veio esse presente da vida, do qual me fez enxergar a beleza do mundo em outros detalhes antes despercebidos... Tudo se tornou obsoleto a partir de então, e hoje me encontro flutuando num mar de luz, e tudo que quero e desejo todos os dias é dar o melhor de mim a minha pequena Valentina, que muito em breve estará caminhando entre nós.


Hoje completo 27 anos de vida, e se o mundo não acabar hoje, lanço o 4º disco com a minha banda – Veludo Branco -, aguardando ansiosamente as últimas 6 semanas de gestação da minha filha Valentina. Estou casado, feliz e realizado, vivendo ao lado da mulher mais incrível de todas, que me faz enxergar o mundo de uma maneira que jamais pude imaginar. Chego aos 27 querendo muito mais da vida, e ao contrário dos meus ídolos que se foram com a mesma idade, eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, tendo fé em Deus e fé na vida, sem desistir jamais dos meus sonhos, abraçando o mundo por que sei que ele vai me abraçar também, cultivando amor, luz e exercendo sempre a arte do equilíbrio e paciência... Hoje quero saber bem mais que os meus vinte e poucos anos, e que venha o dobro, o triplo, por quero tudo que me é de direito enquanto estiver caminhando neste mundo, e sabe porque? Porque eu adoro a minha vida!



Fecha a conta.


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