31 de mar. de 2017

STALLYN BUCKLEY – UMA REFERÊNCIA NO ROCK DE RORAIMA

Por Victor Matheus – Blog Roraimarocknroll

A biografia do rock nos conta que muitos dos grandes ídolos do rock e da música tiveram um caminho árduo, cheio de desafios e tropeços antes de alcançar o estrelato. 

Temos como exemplo Ozzy Osbourne, que já trabalhou em um frigorífico abatendo animais e também fazia pequenos furtos antes de conquistar o mundo com o Black Sabbath. Já Bom Scott era motorista de caminhão e um exímio bebedor de destilados antes de ingressar no AC/DC. O guitarrista Slash chegou a trabalhar como figurante em filmes B de Hollywood em troca de lanche e alguns trocados para sustentar seu vício em heroína nos tempos em que o Guns N’ Roses era apenas uma banda aspirante em Los Angeles. Hoje Ozzy e Slash são lendas do rock, ainda vivos e sobreviventes de uma época onde sexo, drogas e rock n’roll era a regra do jogo e ingredientes obrigatórios no mundo das estrelas do rock. 

Conheci Stallyn Buckley quando tinha apenas 18 anos. Nessa época eu trabalhava na Academia AFA no bairro Pricumã como instrutor de musculação. Durante meus turnos de trabalho, comecei a conviver com um cara de estatura baixa e uma força muscular impressionante, levantando facilmente 120kg de peso no supino reto, e de uma disciplina invejável. Não existia feriado, fim de semana, chuva ou falta de luz que impedisse de ver aquele baixinho com cara invocada ir puxar ferro. Logo nos aproximamos pela afinidade com a musculação e o rock. Nascia ali uma amizade de longos anos.


Paulo Franca, campeão Brasileiro de SUPINO RETO e Stallyn Buckley

Nesse mesmo período comecei a tocar guitarra na banda Mr Jungle, que passava por uma reformulação de integrantes. Já Stallyn se reuniu com os remanescentes da antiga formação da Mr Jungle e juntos formaram a Iekuana.

No seu começo, a banda Iekuana fazia um som bem diferente do que apresenta hoje, um rock mais cru e básico que até me lembrava O Rappa. A banda já apresentava músicas autorais desde o início de sua história, com letras fortíssimas e biográficas que logo alavancaram a banda na cena underground local, e em pouco tempo a Iekuana tornara-se a referência máxima do rock underground made in Roraima.

Banda Iekuana

Foram muitos os shows, festivais e eventos que dividi o palco com o Stallyn. A cada encontro nosso rolava muita conversa boa e ainda rola até os dias de hoje. Descobrimos ao longo dos anos muito mais afinidades não só pelo rock e pela musculação. Eu também já lutara Karatê na infância, na mesma academia que ele se graduou faixa preta. O amor pelas artes marciais também virou assunto comum entre nós e o sentimento de fraternidade só cresceu.

Em 2010 tive a oportunidade de produzir o Roraima Sesc Fest Rock. Trouxemos na programação a banda Matanza, Madame Saatan do Pará, Dust Road do Amazonas e a lenda Dado Villa-Lobos da Legião Urbana acompanhado de Tony Platão (banda Hojerizah) nos vocais além de bandas locais autorais. 

Stallyn Buckey no Schin Fest Rock 2016

Nesse período o rock autoral estava em ascensão e o público local cada vez mais apoiava bandas autorais. Nesse sentido tentamos organizar o festival voltado para as bandas autorais seguindo algumas regras para inscrições e critérios específicos dentro de uma curadoria para escolher as bandas. Infelizmente não agradamos a cena de um modo geral e fui muito criticado na época pela forma de escolha das bandas, afinal muitas bandas ficaram de fora, incluindo a já reconhecida banda Iekuana.

Paralelamente ao Fest Rock, Stallyn e banda Iekuana, bandas de rock locais e amigos organizaram outro festival para “competir” com o Fest Rock, realizado de graça, na Praça Ayrton Senna e batizado de Tribus Rock. Na época fiquei muito chateado com a atitude das bandas em “boicotar” e protestar contra o Fest Rock realizando outro evento paralelo nos mesmos dias e dividindo o público. 

Essa atitude poderia gerar mais conflitos, as famosas tretas e desunião na cena, e até encerrar amizades, então quando soube imediatamente sobre o outro festival, liguei para o Stallyn para conversarmos e tentarmos resolver esse mal estar. Tivemos uma longa conversa por telefone, e cada um esclareceu seu ponto de vista, deu seu feedback sobre a situação, e como dois bons amigos, encerramos o papo mantendo o respeito e formatando ideias em comum para futuros eventos no rock macuxi. 

Mais importante que uma briga de egos que poderia surgir desse episódio, foi a maneira madura que Stallyn e Eu lidamos com a situação. Nossa amizade não sofreu nenhum abalo por conta desse episódio, e se fortaleceu ainda mais ao longo dos anos. Hoje damos risadas dessa história.

Desde o Fest Rock em 2010 compartilhamos muitas histórias juntos. Tocamos mais diversas vezes em vários festivais e eventos, incluindo o Fest Rock e também na Casa do Rock do 13 de Setembro, criada pelo Stallyn para fortalecer a cena autoral.

Veludo Branco em 2007 na Casa do Rock do 13 de setembro
Casa do Rock do 13 de Setembro de Stallyn Buckley

A Iekuana participou da Coletânea Roraimarocknroll lançada pelo Blog Roraimarocknroll, e contamos a trajetória da banda no Blog e na Coluna Roraimarocknrolll desde sempre, incluindo o lançamento do disco de estreia do grupo na AABB.

Hoje a nova geração do rock local em sua grande maioria não conhece, ou mesmo respeita aqueles que vieram antes deles e fizeram a história do rock local. É comum me deparar nas redes sociais com brigas inúteis e ofensas gratuitas vinda grande parte da galera “metaleira” mais nova para com os headbanguers mais velhos e isso é de uma imaturidade tamanha que deveria ser revista pelos jovens aspirantes a roqueiros de Boa Vista.

Stallyn e Eu somos de gerações diferentes, vivemos em bairros vizinhos, vivenciamos histórias parecidas, mas desde o início de nossa amizade, o respeito, a irmandade, a parceria prevaleceu, e mesmo nos momentos mais tensos e conflitantes entre nós, nunca baixamos o nível ou partimos para uma agressão verbal ou física.

Minha admiração pelo Stallyn é por conhecer a sua história de vida desde os tempos de Academia AFA. Desde aquele tempo Stallyn compartilhou comigo muitas histórias pessoais que inspiraram várias letras da banda Iekuana, e outras bem cabulosas que nunca ganharam a luz do dia até agora.

Iekuana no Festival Tomarrock

Soube por Ele mesmo de muitas alegrias e tristezas que viveu ao longo de sua jornada, muitas histórias inclusive semelhantes as minhas. Como um irmão mais velho, aprendi com as experiências de vida do meu amigo a não cometer os mesmos erros.

Hoje meu amigo completa 40 anos de Vida. E nesta madrugada, pouco antes do sono chegar, zapeei rápido meu facebook e me deparei com um testemunho do Stallyn publicado em seu perfil. Lembrei-me de todas aquelas histórias do testemunho que ele me contou no passado, lembrei-me também das histórias de vida dos meus ídolos, e fui tomado por uma emoção fraternal e de gratidão pelo privilégio de conviver com uma pessoa que é um exemplo não só para o rock local, mas para todas as pessoas que perseveram na vida, mesmo nas dificuldades.

Stallyn Buckley é em definitivo uma referência no rock roraimense, e eu desejo ao meu amigo, muitos anos de Vida, com mais histórias incríveis para viver, muito ferro pra puxar, e muito rock pra cantar. 

Saiba Stallyn, que seu exemplo inspira muitos jovens, e quem sabe num futuro próximo, sua biografia seja eternizada em linhas, já que em vídeos e músicas está concretizada. A Iekuana é a prova disso... O seu legado é para sempre!

Stallyn e 3 dos seus 4 herdeiros

E sobre quem é Stallyn Buckley, Ele mesmo escreve nesse testemunho que você confere a seguir:

"Para você que não sabe nada sobre mim, um breve resumo de 40 anos de história: Nasci em 31/03/1977. Meus dois primeiros anos de vida foi dentro de um bar. Meus pais tinham um boteco próximo ao Caetano Filho. Lembro que alguns clientes me davam cerveja e eu gostava. Em 1979 viemos morar no bairro 13 de setembro. Local onde vivo até hoje. Meu pai garimpeiro não parava em casa. Minha mãe deixou a vida de bar e resolveu virar taxista, e em 1983 se tornou a primeira taxista de Roraima. Em 1984 nos convertemos ao cristianismo na igreja Tabernáculo Batista, local que frequentei até meus 13 anos de idade. Conheci o karatê aos 12 anos e mal sabia que a doutrina marcial iria me ajudar a vencer grandes barreiras no futuro... Mas o mundo me reservava um grande desafio e na passagem de 13 para 14 anos cai nas graças do mundo e do que ele tinha para me oferecer. Álcool, cigarro e pouco tempo depois as drogas mais pesadas, fizeram parte do meu dia a dia me afastando da igreja e aos poucos do Karatê. Me enturmei com a galera da pesada e com uma facilidade impressionante me tornei um perigoso marginal cheira cola, agressivo e sem a menor perspectiva de vida. O dialeto Marginês, junts com armas brancas me colocavam em uma posição de respeito junto aos demais pilantras, mas contudo, mesmo meio desinteressado, não larguei os estudos. Aos 16 resolvi trabalhar e meu primeiro emprego foi na olaria colocando lenha na caera e fazendo tijolo. A grana era pouca mas dava para sustentar meu vicio, pelo menos era o que eu achava, mas com o passar do tempo e com a chegada do pó, Eu precisava de mais grana. Meu pai largou o garimpo e quando chegou em casa se deparou com um moleque revoltado e marginalizado. Tentou me dar alguns conselhos mais eu cego e surdo pelas drogas não os ouvia. Aos 17 comecei a trabalhar com meu pai cortando lenha pra pagar um caminhão que ele havia comprado por 100 carradas de lenha. Minha vida nesse momento oscilava entre a responsabilidade e a vagabundagem. Tudo que eu ganhava era pra gastar com bebidas e drogas. Minha mãe ainda taxista já não aguentava mais dirigir e então aos 18 tirei minha habilitação e comecei a trabalhar de taxi, profissão que durou apenas 3 anos pois por causa dos vícios eu destruí o carro e sem a menor compreensão, me afundava mais e mais nas drogas. Me vi no fundo do poço e por várias vezes tentei sair... Mas sem sucesso. Até que em 12 de julho de 1998 resolvi mudar minha vida. Já se passaram quase 19 anos do dia da minha mudança. E A SUBIDA, NOBRES AMIGOS... Foi a mais íngreme que se possa imaginar. Hoje não bebo nem fumo e muito menos uso drogas. As profissões que exerci após minha mudança foram respectivamente: vendedor ambulante de salgadinho (em uma bicicleta caindo aos pedaços), caseiro em sítio com especialidade em criação de frango, assistente administrativo na CODESAIMA, voltei a estudar e passei no concurso do Banco do Brasil e tomei posse em 2003. Me tornei gerente em 2004, me formei em Administração, voltei a treinar karatê e peguei a faixa preta em 2004. Hoje sou 3º dan nessa maravilhosa arte marcial, pratico musculação há 15 anos, sou M.: M.: da irmandade maçônica, vocalista e compositor de uma das bandas autorais mais conceituadas do estado, onde expresso a realidade que vivi e que muitas pessoas vivem. Tenho 4 filhos dos quais 3 moram comigo. e o que eu digo? NUNCA DESISTA."

Stallyn Buckley

2 comentários:

Unknown disse...

Esse cara merece muito respeito da nova geração e que alguns antigos também possam aprender a ter mais humidade e simplicidade para lhe dar com certas situações.
Vida longa à Iekuana e Stallyn.

Unknown disse...

Esse cara merece muito respeito da nova geração e que alguns antigos também possam aprender a ter mais humidade e simplicidade para lhe dar com certas situações.
Vida longa à Iekuana e Stallyn.