Considerados injustamente como a “década perdida”, os anos 80 representaram a consolidação do rock brasileiro, com o surgimento de bandas nacionais que fizeram história por suas letras de protesto e irreverência em um momento de transição do regime militar para a abertura democrática. Em Roraima não foi diferente, com a explosão de bandas locais que arrastavam centenas de jovens e adolescentes para shows nas escolas e praças públicas. Foi com a finalidade de resgatar esse período da história, pouco divulgada pelas dificuldades da época, que surgiu a Banda DK 80, formada por ex-integrantes de bandas daquele período, quando todos eram adolescentes e saíram da garagem de suas casas para se tornarem sensação em seus redutos.
A banda é composta por Wilson Leite (guitarra e voz), Paulo Sérgio (baixo), Fanderson Dantas (guitarra), Clóvis Barbosa (bateria) e Josemar Sales (vocal), quase todos hoje beirando os 50 anos de idade e com experiência de quem atravessou os melhores anos do rock roraimense. Nesta sexta-feira, 15, a DK 80 irá abrir a noite no Bar do Rock, como é conhecido o espaço do Roraima Moto Clube, na Praça do Centro Cívico, a partir das 23h, com o melhor do rock dos anos 80. Será uma apresentação que vem sendo bem trabalhada pelo grupo, pois a intenção é mostrar ao público a maturidade da banda, apesar de ter apenas nove meses de criação, mas compensada pela experiência individual de cada integrante, que se prepara para gravar suas primeiras sete músicas autorais, no fim do ano.
“Tudo começou numa reunião em uma casa com pessoas que pertenciam a bandas da época. Então, pensamos: ‘por que não juntarmos todos agora, fazer uma banda, para lembrar e relembrar os anos 80?’”, relembra Fanderson, que é policial militar, integrante da Banda de Música da Polícia Militar de Roraima (PMRR). Segundo ele, o nome da banda é uma referência ao Dragão-de-Komodo, cuja lenda diz que esse lagarto seria um sobrevivente dos dinossauros, assim como são considerados os rockeiros sobreviventes da década de 80, chamados pelos mais novos como “dinossauros”, algumas vezes com tom de reverência e outras de preconceito mesmo por quem não conhece a raiz do rock roraimense.
Wilson Leite, que é defensor público, disse que já ouviu críticas durante os shows, não pela qualidade, mas pela idade mesmo dos integrantes, quando alguns jovens acabam sentindo um estranhamento: “O que esses caras velhos estão fazendo aí?”, relembrou Wilson ao reproduzir um comentário que ele ouviu no palco. “Mas muitos não sabem que tudo começou com a gente”. O baterista Clóvis, o único que sempre viveu da música até hoje, afirma que esse preconceito que os “dinossauros” sentem na pele serve como combustível para o grupo fazer o melhor: “Isso acaba servindo para refletir um pouco sobre como tudo começou”.
Fanderson disse que, por tudo que já viveram, hoje todos que tocavam nas bandas na década de 80 evoluíram musicalmente, até porque, naquela época, os instrumentos eram precários, o que obrigavam os músicos a “tirarem leite de pedra”. É por essa evolução natural que todos passaram que o grupo decidiu resgatar as músicas autorais que foram feitas naquela época e que nunca chegaram a ser gravadas ou, se gravadas precariamente, nem chegaram a ser divulgadas. Embora pertençam há quase três décadas, as letras estão bem atuais, fazendo reflexões sobre a sociedade, incluindo obviamente a política. “As letras permitem que as pessoas pensem sobre o que está acontecendo na nossa sociedade”, disse Fanderson. “Rock pra gente é o seguinte: se não tiver atitude, não é rock”.
O integrante mais novo do grupo, que não viveu a adolescência nos anos 80, é o vocalista Josemar Sales, mas ele disse que, embora tenha sido aconselhado a não seguir com uma banda de “enferrujados”, ele disse que se sente em casa por estar tocando com pessoas que têm uma história muito bonita, com bagagem do rock. “A banda tem diferencial: todos tocam porque gostam, porque vivem a música. Todos são pais de família, têm suas vidas formadas, mas querendo levar isso para frente, mesmo não tendo mais necessidade de fazer isso”, comentou. Para quem fazia tributo a Legião Urbana, não foi difícil se entrosar na DK 80, que tem ainda na composição um militar da reserva, o baixista Paulo Sérgio.
Mas a banda não quer apenas resgatar um período ouro do rock roraimense. Outro projeto para o futuro é levar a música para crianças e adolescentes nas escolas, como ocorria no passado quando todos eram adolescentes. O terreno vem sendo pavimentado pelo grupo, que faz ensaios abertos na casa dos integrantes, como se fosse uma família. “Nós temos uma ideologia de que não é só ensaio o tempo todo. São 50% de ensaio e 50% de conversa”, avaliou Fanderson. “Cada um pega seu instrumento, vai para a casa de alguém, assa carne e brinca de música”, complementou Josemar, para reforçar o entrosamento da banda em busca desse resgate histórico, mas sempre de olho no futuro do rock para as novas gerações.
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