A sessão PAPO RETO do Blog Roraimarocknroll troca uma idéia, ácida, filosófica e reveladora com o Lester Bangs do jornalismo cultural brasileiro, HUMBERTO FINATTI, que entre uma dose rocker e outra revela com exclusividade detalhes que envolvem as movimentações obscuras e tenebrosas da ong Fora do Eixo no epicentro cultural do Brasil – Sampalândia – suas impressões sobre a música produzida no norte do Brasil e o mercado da música independente brazuca. Confira como foi o papo:
Blog Roraimarocknroll
Aqui
em Roraima muitos ainda não conhecem a lenda do jornalismo cultural brasileiro
Humberto Finatti... Pois bem, como o jornalismo entrou na vida do zap blogger
Finas?
Humberto Finatti
Bom,
na real estou no jornalismo musical há duas décadas e meia e já trabalhei ou
colaborei com alguns dos principais veículos da mídia impressa brasileira, como
os JORNAIS FOLHASP, ESTADÃO E GAZETA
MERCANTIL, E AS REVISTAS BIZZ, ISTOÉ, INTERVIEW E ROLLING STONE. Fazer o blog
foi um caminho natural, pois hoje em dia todo jornalista experiente e veterano
como eu tem o seu, né? A Zap’n’roll existe já há uma década. Ela começou em
2003, como coluna semanal no portal Dynamite online (www.dynamite.com.br) - um dos mais
acessados do país na área de rock e cultura pop - e depois de alguns anos se
transformou em blog. Hoje é publicada em dois endereços: no portal Dynamite e
também no seu endereço próprio, em www.zapnroll.com.br.
A diferença de conteúdo nos dois endereços, basicamente, é que o material
publicado na Dynamite é mais focado mesmo na música. Já o texto que sai na
Zap.com é bem mais amplo e polêmico: fala de rock alternativo, cultura pop, política,
sociedade, comportamento etc. E ele se tornou um dos blogs mais lidos e
comentados do Brasil (cerca de 70 mil acessos por mês) graças aos célebres
diários sentimentais que são publicados nele. São textos que relembro histórias
pessoais, todas repletas de putarias e de situações onde a enfiação grotesca de
pé na lama em álcool e drugs foi a tônica (risos). São relatos tão bizarros e
bacanas que estou compilando-os para publicar um livro, a ser lançado ainda
este ano se possível.
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Você
surgiu no jornalismo num período em que o rock brasileiro vivenciava seu
apogeu, a década de oitenta e meados de noventa, e foi testemunha ocular das
mudanças no mercado da música do Brasil e do mundo nos últimos quinze anos... O
que mudou pra melhor e pra pior em relação à música?
Humberto Finatti
Mudou
completamente a forma como se produz e se comercializa música hoje em dia, em
relação há duas décadas, isso não é nenhuma novidade. O lado bom da mudança foi
que o mega poder das grandes majors do disco (que impunham o que o país deveria ouvir, determinavam através de
esquemas bastante canalhas, como pagamento do famoso jabá para rádios e TVs,
quem iria fazer sucesso ou não etc.) foi praticamente esfacelado pelo
advento da internet e da troca de arquivos musicais livremente na rede. Isso
democratizou o acesso do artista ao público e também do público à produção
musical, sem a ingerência de um “atravessador” (no caso, as grandes gravadoras
e grandes corporações musicais) na parada. Esse foi realmente o lado bom, o
grande ganho na produção musical de anos pra cá. O lado péssimo veio com a
mesma internet: com as facilidades tecnológicas de hoje e o baixo custo para se
gravar uma música (algo que pode ser feito com um computador, num quarto), absolutamente TODO MUNDO resolveu virar
artista e se acha rock star e gênio da raça, quando na verdade está muito
longe de serem as duas coisas. A qualidade artística decaiu a olhos vistos não
apenas no rock brasileiro, mas no mundo todo. Não há mais a carga poética e a
virulência político e social que você encontrava em músicas da LEGIÃO URBANA, DOS TITÃS, DO LOBÃO, DA
PLEBE RUDE OU DO CAZUZA, só pra ficar nos principais exemplos. Hoje o rock
brasileiro está abaixo da linha da ignorância plena (há exceções, claro), tanto
na música quanto na letra e dá raiva ouvir imbecilidades ao nível de Restart,
For Fun, Strike e assemelhados. Isso, óbvio, é reflexo da garotada de hoje: uma molecada igualmente burra, que tem toda
a informação disponível à mão (através da internet, das redes sociais, do
YouTube, dos sites, blogs e os caralho) mas não sabe aproveitar e filtrar
essa informação, absorvendo geralmente o que é fútil e banal e dispensando o
que realmente lhe daria estofo cultural. Falta
pra esse pessoal ler os clássicos da literatura, assistir os clássicos do
cinema e principalmente ouvir as obras-primas do rock’n’roll. E isso não é
papo de tiozão ranzinza, não, é algo real. Porra, com dezesseis anos de idade
eu lia Augusto dos Anjos e já estava escutando The Who e Rolling Stones.
O encontro de duas lendas do jornalismo cultural brazuca: Finatti e Lucio Ribeiro
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Podemos
dizer então que a internet foi ao mesmo tempo o paladino da liberdade artística
e o câncer que apodreceu a "qualidade" musical dessa nova geração da
música brasileira?
Humberto Finatti
Com
certeza. Não só aqui, mas na música gringa também. Haja visto a enxurrada de
Justins Bibas, Keshas, Rihanas e assemelhados que surgem todos os dias. Há
quantos anos não surge um gênio no rock mundial do calibre de um John Lennon
ou, pra ficar em exemplo mais recente, de um Kurt Cobain?
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...
Mas temos Jack White, Dave Grohl... Ainda há esperança, não?
Humberto Finatti
Sim,
claro. Como eu disse, há exceções honrosas tanto aqui (Los Porongas, A Luneta Mágica, Malbec, Veludo Branco, Jamrock, The
Baudelaires, Stereovitrola, Rock Rocket e mais alguns poucos) como lá fora,
onde você citou duas e sendo que Jack White talvez seja de fato o ÚNICO grande
gênio surgido no rock nos últimos quinze anos.
Finatti, Guto Goffi (Barão Vermelho) e a lenda Ezequiel Neves
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O
foco do seu trabalho jornalístico está voltado para a cena alternativa do
Brasil e do Mundo, sendo o descobridor de grandes promessas da música do
Brasil. Como você vê essa fatia do mercado da música nos dias atuais? Acredita
que os velhos vícios do mercado fonográfico estão contaminando a música independente
brasileira?
Humberto Finatti
Ah
sim, com certeza. A cena independente nacional sempre se queixou da falta de
honestidade e de espaço no grande mercado musical, o chamado mainstream. Pois
bem, agora que o mainstream praticamente desapareceu, o que observamos? Que
várias panelas se formaram também na cena independente e se você não está
dentro de uma delas, você simplesmente não tem espaço para mostrar seu
trabalho, pra divulgar sua música, pra tocar com sua banda. Está aí a tenebrosa Ong Fora do Eixo como
exemplo máximo disso: se APARELHOU em São Paulo (eles não são fora do eixo? O que vieram fazer então DENTRO do eixo?),
pra conseguir poder político e arrancar
muita grana da teta pública através de projetos que na verdade escondem
tenebrosas transações e articulações que já deveria a tempos estar sendo
investigadas pelo Ministério Público. A partir de São Paulo esse pessoal
espalhou seus tentáculos por todo o país e hoje se consideram os “donos” da
cena independente nacional. Aí, a equação é simples: se você está com eles e se
submete a eles, você tem espaço pra tocar (de graça, sempre, vale lembrar). Se
não está, é banido da “cena”. Ou seja: a mesma conduta hipócrita, canalha e mau
caráter que era regra no mainstream musical e que esse pessoal tanto gritava
contra. Agora, estão fazendo da mesma forma, aprenderam a lição, direitinho...
Humberto Finatti e Victor Matheus
Finatti veio a primeira vez em Boa Vista em 2011
para fazer a cobertura do Skinni Festival
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Você
acompanhou de perto o surgimento do Fora do Eixo... Em sua opinião, o que
desvirtuou de fato a essência do movimento? Acredita que tudo não passou de uma
jogada esperta de um grupo de jovens aventureiros a fim de tirar onda de bacana
nas costas do dinheiro público e das bandas que buscam seu lugar ao sol? Ou
ainda há esperança para esse câncer que contamina a cena independente do
Brasil?
Humberto Finatti
Olha,
na real eu acho que eles tinham boas intenções no princípio, e idéias e
projetos bacanas. Conheci o hoje grande “cappo” do FDE, Pablo Capilé, em 2005
em Cuiabá quando fui pra lá cobrir o festival Grito Rock, a convite dele e da
produtora Cubo, que era gerida por ele. A Cubo é o embrião do Fora do Eixo e
sinceramente eu achei bacana tudo o que eles se propunham a fazer em termos de
abrir espaço para artistas, fazer as bandas circularem, trocar informações e
projetos com outros produtores e agitadores culturais de outros Estados etc. A
questão é que as idéias eram tão bacanas que eles começaram a fazer certo
sucesso com elas e a chamar a atenção do Poder Público para essas idéias.
Começou então aí a busca frenética pela aprovação de projetos culturais através
das Leis de Incentivo Fiscal e etc, etc, etc. O negócio virou uma bola de neve,
começou a se mostrar altamente rentável (pra turma da Cubo, aí então já
transformada em Fora do Eixo), eles
cresceram o olho (e o bolso também), resolveram se mudar pro “eixo” (São
Paulo), aqui montaram a sede da máfia e hoje é o que se sabe: o FDE, em sua
cúpula paulistana, desvirtuou totalmente seu ideário inicial. Está muito claro que os caras querem que as
bandas se fodam, o negócio deles é
conseguir arrancar grana do governo e também obter poder e visibilidade
política, simples assim. Como eu sempre digo, ainda acredito que há gente
muito bem intencionada na rede deles e que pensa em trabalhar honestamente e
com o objetivo real de fomentar a produção musical independente. Vejo muito
isso aí no Norte, principalmente. Aqui em São Paulo, na cúpula da entidade, eu
não boto mais nenhuma fé de mudança. E por isso rompi com esse pessoal.
Finatti no Goiania Noise Festival com Cachorro Grande, Relespública e Feichecleres
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Ou
seja, o lance dessa turma oportunista é fazer política da pior extirpe e
garantir seus mensalões culturais e o resto (artistas, bandas, produtores,
festivais) que fique com o nariz de palhaço?
Humberto Finatti
Pelo
menos é o que a cúpula da entidade, sediada aqui em São Paulo, tem demonstrado
com suas atitudes. Mas como eu te disse, também não posso generalizar a questão,
pois acompanhei bons festivais realizados por integrantes da entidade, em
outras regiões do país.
Finatti e uma das suas paixões avassaladoras: A Boemia Etílica
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Você
teve por duas vezes em Roraima fazendo a cobertura de Festivais. Quais foram
suas impressões sobre a cena do extremo norte? Que bandas você destaca do rock
roraimense? E o que você aponta como os principais desafios relacionados à
música de Roraima?
Humberto Finatti
Os
dois festivais aí foram bacanas e bem estruturados, na medida do possível –
sim, talvez tenha faltado a ambos um pouco mais de cancha na questão da
estrutura e logística, mas isso é algo que vai se adquirindo com o tempo. Agora
a cena aí é realmente muito interessante. Há dois ótimos grupos de rock básico,
de guitarras urgente e com temática estradeira à la Barão Vermelho, que são o trio Veludo Branco e o quinteto Mr.
Jungle. Tem também a Jamrock, que
faria sucesso se estivesse aqui no Sudeste. E os desafios são os básicos de
qualquer cena que está mais distante dos grandes centros pseudo culturais do
país: ter acesso a uma boa estrutura para a realização de eventos e para a gravação
e distribuição de suas obras musicais.
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Pra
fechar a conta...
Humberto Finatti
Eu
agradeço o espaço dado por vocês. Acho o blog realmente bacana, tenho
acompanhado e vai ser sempre um prazer dar espaço para o rock feito não apenas
em Roraima, mas também em todos os rincões mais distantes do Brasil. Porque não
é apenas no Sudeste que existe rock’n’roll, aliás, aqui é onde existe hoje
menos qualidade e boas idéias na novíssima cena nacional. Já estive aí duas
vezes (e espero voltar este ano) e sei do que estou falando. Há bandas aí (e
também em Manaus, Macapá, Belém e Rio Branco) que produzem um trabalho que
chega a ser superior ao feito pelas bandas do Sudeste. Então vocês podem se
orgulhar disso, com certeza! E daqui mando meu mega abraço pra você, que é um
amigo querido, além de ótimo agitador cultural e músico, e também pra todos os
amigos que conquistei aí, ok? Contem sempre comigo e com a Zap’n’roll!
Fecha
a conta.
Um comentário:
O mundo está cada vez mais louco mano, acabo de chegar da feira da praça quinze com uns vinis embaixo do braço, enquanto escutava o Journeyman do clapton vi seu nome datilografado na capa, muio legal seu blog man, long live to rock in roll!
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