23 de fev. de 2012

SENTA A PÚA - CADÊ O RESPEITO?


Por Victor Matheus - Blog Roraimarocknroll

Há algumas semanas fui marcado numa publicação no facebook, onde personagens da cena local, entre eles Ramon Hiama (Sheep), Ellen Carmen (Klethus) e Eduardo Werland (Old Funeral) debatiam um tema muito pertinente: A estrutura de palco dos shows de rock em Boa Vista. Não quis entrar no debate pois quem acompanha Blog Roraimarocknroll sabe a opinião que defendemos quanto a esse tema, mas depois de observar os últimos shows e eventos de rock da cidade, considerando todas as óticas, de quem promove os shows, a produção do evento, as condições do mercado atual da música no extremo norte do Brasil, e é claro o público, não posso deixar de compartilhar minhas impressões de como anda a produção cultural local, em especial a de música, e mais especificamente a de rock.

Desde que a emergente cena rock de Roraima começou a se moldar e se estruturar em 2000, se dividiu em blocos a partir de 2007, se reinventou em 2011 e se tornou o que é hoje, um organismo interessante e mutável de acordo com os interesses dos seus personagens, o principal calo do pé de muitos eventos sempre foi a questão da estrutura dos shows (palco, som, iluminação e divulgação). Temos pelo menos, ao longo de uma década, uma meia centena de eventos de pequeno, médio e grande porte realizados em Roraima, com orçamentos volumosos e pequenos, para usarmos como exemplos e comparações. Paralelamente cresce a quantidade de reclamações, nem sempre públicas por medo de censura, por parte dos artistas que movem essa cadeia produtiva, do público em si, e de formadores de opinião quanto ao desrespeito que muitos produtores tem cometido com nossos artistas e público.

De um lado, os produtores incompetentes se justificam como podem, com seus argumentos rasos, seus discursos enlatados, colocando na maioria das vezes a culpa em outros fatores, que é claro, não podemos desconsiderar mas que qualquer um com o mínimo de massa cinzenta que utiliza para pensar sabe muito bem que não passa de abobrinha para surdo ouvir. Do outro lado estão os artistas, o principal produto dessa cadeia produtiva, que se esforçam para apresentar ao público um bom show, investem tempo e dinheiro em instrumentos, horas de ensaio em estúdio, gravação de músicas e a fins, e ainda disponibilizam energia para auto gestão de suas carreiras, e quando tem a oportunidade de vender seu produto da melhor forma possível, que é através de um show, não recebem o devido tratamento que merecem, já que em quase todos os casos não recebem cachê e nenhum tratamento pelo menos digno pelo esforço que realizam.

Meus caros, tapinha nas costas, auto masturbação no twitter, textos bonitinhos, enfeitados com os mesmos adjetivos de sempre que já viraram clichê no facebook, e fotos com efeitos de app de Iphone são importantes para a divulgação dos artistas, mas só isso, repito, só essa maquiagem virtual não basta. Se não houver um som bom, um palco descente, com back line profissional, técnicos de som responsáveis, assistentes de palco interessados mais em auxiliar os artistas ao invés de brincar no celular, iluminação profissional que valorize a fotografia do show, dando inclusive lastro para os profissionais do audiovisual realizarem seus trabalhos com eficiência e valorizando ainda mais o evento e os shows, uma produção que respeite o artista e dê seu valor, tudo isso perde o sentido. Além de não valorizar a boa música, uma estrutura de palco ruim ofende nossos ouvidos e denigri a imagem de quem está lá em cima do palco dando a cara a tapa, pondo o cu na reta e dando o sangue para fazer um bom show.


Quanto a questão de cobrar ou não cachê é uma opção em muitos os casos, pois cada um sabe o valor de sua arte, mas o que não pode é você participar de um evento pago, que gera receita e não receber nenhuma palheta pelo seu trabalho. Esse papinho “vendedor de bíblia” de economia solidária só é bonito no papel e pelo menos aqui em Roraima nunca deu resultado real e palpável. Prefiro o Merdcard do Mundo Canibal. Pelo menos esse nos diverte com boas risadas. No dia que eu fizer um show e receber um cachê solidário que bote a gasolina no meu carro, pague as horas de ensaio no estúdio, pague as cordas da minha guitarra, a gravação de minhas músicas, a confecção dos produtos da minha banda (cd's, dvd's, adesivos e camisetas) eu subo no palco com estrutura boa ou ruim, e ainda faço campanha e lambo o saco. Esse mundo de peter pan só cola na cabeça dos alienados e de quem tem rabo preso.

Não tiro o mérito daqueles que promovem a cultura rock no extremo norte do Brasil e que enfrentam dificuldades, mesmo sabendo que é ano político e blá blá blá, mas não engulo ver produtores que estão aí já tem um bom tempo, continuarem persistindo em erros grosseiros e primários que o tempo mostrou que podem ser solucionados com atitudes simples. Minha consultoria não é cara, e estou a disposição para colaborar, é só pedir gentilmente.

Para fechar a conta, só reivindico como artista, e principalmente como público, mais respeito com nossos artistas, não importa o tempo de carreira que a banda A ou B têm, se leva público ou não, se tocam bem ou ruim. Quando isso acontecer, nossos ouvidos vão agradecer, o público vai agradecer, e os artistas estarão muito mais motivados para persistirem nessa árdua jornada que é navegar nos mares traiçoeiros da cadeia produtiva da música independente do nosso país.

Fecha a conta.

NOTA: As opiniões expressas nesse Artigo são de exclusividade e responsabilidade do Autor, não refletindo a opinião das pessoas citadas no texto.

3 comentários:

Cesar... disse...

o Tributo a Legião Urbana no CTG foi de matar a pau, acertaram em tudo, espaço , som, luz, palco, strutura, para publico e banda, foi a melhor possivel. estão de parabens.. comparem com os outros porai.

rimolo disse...

boa mateus !!! quando eu digo que pra se produzir um show tem de ter culhao ninguem acredita!!!!! tiro por mim que produzi no passado varios e com toda uma estrutura de som e iluminaco etc.., e detalhe sem um real no bolso!!! imagina se tivesse eu apoio financeiro como se diz que esses movimentos tem!!!!

Ellen Carmaine disse...

Imagine que a gente tá na batalha pra mostrar a nossa arte! Sem condições, é melhor mostrar a arte dos outros! Tô quase achando melhor tocar cover, pq só assim vou conseguir pagar as minhas contas e olhe lá!