5 de abr. de 2013

SENTA A PÚA - GOD SAVE THE ROCK RORAIMENSE


“O rock me salvou de ser um idiota” - Daron Malakian

Por Victor Matheus

Houve um tempo em Boa Vista, que o rock era sinônimo de união, de fraternidade, de companheirismo e atitude. Naquele tempo, onde houvesse show de rock, seja cover ou autoral, nas praças da cidade, na Orla Taumanan, no Gela Guela, nas matinês de verão, nas boates como KGB, ou em algum pub novo que surgisse, o público ia prestigiar, pois eventos como esse eram escassos em nossa cidade. 

Acontecia em Boa Vista verdadeiras celebrações ao rock n'roll, e cada show de rock anunciado na cidade era comemorado por todos. A notícia se espalhava viralmente no “boca a boca” e os shows reuniam todas as tribos imagináveis do universo rock. Um verdadeiro aglomerado de banguers, punks, rockers, posers, emos e simpatizantes co-existiam pacificamente, ao ponto da união das tribos ser o maior diferencial da cena rock roraimense em relação aos outros lugares. 

Muitas bandas (autorais e covers) surgiram nesse período, até hoje considerado a “Era de ouro do rock roraimense”. Havia também uma enorme circulação de bandas entre Roraima e outros estados da região norte, principalmente o Amazonas, com bastante prestígio por parte do público, fazendo de Boa Vista, um verdadeiro oásis para qualquer banda de rock tocar fora de seu estado natal. Alguém aí se lembra dos shows que aconteciam no templo do rock roraimense, o Espaço Rock, do Sesc Centro? Eram tempos em que tudo que importava era a música, e essa história de ego e vaidades que hoje contamina o rock roraimense, ficava para as lendas do rock n'roll mundial.

Hoje, o panorama é bem diferente. O rock roraimense vive um momento agonizante, onde o que menos importa é a música, e mais vale o ego, a vaidade, o boicote e a desunião. Grande parte hoje, das bandas de rock da cena, principalmente as autorais, estagnaram-se e acomodaram-se a um modelo de gestão comprovadamente ineficiente, baseado em princípios distorcidos e claramente incompatíveis com a realidade da cena rock roraimense. Princípios estes defendidos e empurrado guéla abaixo às novas bandas que surgem em nosso cenário por àqueles que mais se preocupam em fazer política (no pior sentido imaginável) do que realmente fomentar de fato a cena e proporcionar tanto as bandas como ao público eventos e shows de qualidade, tal qual era no passado recente na história do rock do extremo norte do Brasil.

Do outro lado da história, a cena cover ganha força, principalmente com o surgimento de novos pubs na cidade, diluindo o ainda diminuto público rocker e formando verdadeiras panelas que temperadas, ou melhor, envenenadas pela vaidade, apenas desagregam também essa fatia do rock roraimense. Sabemos que o rock cover sempre existirá em qualquer lugar, igualmente o seu público fiel, e sabemos também que rock cover está relacionado a entretenimento, mas uma cena rock de verdade só acontece quando além das bandas covers, há produção de conteúdo, bandas autorais tocando, músicas sendo gravadas, discos lançados, festivais acontecendo, bandas viajando para tocar em outros estados, e assim por diante. Nesse contexto, ainda se salvam poucos grupos do rock roraimense, que bravamente levantam a bandeira do autoral e continuam sua peregrinação em busca do graal artistico que abençoe seus nomes na história do rock do norte do Brasil, mas o paradigma atual está aí para ser quebrado, os problemas apontados, e a solução apenas em nossas mãos.

Por hora, como fãs de rock, só nos resta lamentar o atual panorama da nossa cena rock roraimense autoral e apelar ao céu para que algo de imediato mude efetivamente a forma como as bandas conduzem suas carreiras. O maior sentido de uma banda de rock n'roll existir está em fazer sua música ser ouvida e apreciada pelo público. Se não houver público, shows, eventos, festivais, e principalmente se não houver bandas unidas em prol da cena, o sentido delas existirem se perde. 

Há tempos atrás não havia espaço para bandas de rock n'roll tocar em Boa Vista, e hoje acontece o oposto. Há lugar de sobra para uma banda tocar, se quiser, semanalmente, para vários públicos, mas enquanto persistir esse pensamento egoísta de “cada um olhar pro seu umbigo” e as bandas se deixarem manipular por alguns sociopatas invejosos que se acham os donos da cena e usam a política, o boicote, o jogo sujo e falsas promessas para tentar “manter o controle” das bandas para o seu modelo de gestão comprovadamente desagregador, o rock roraimense continuará afundando numa canoa de excrementos de ego e vaidade, e só quem perde somos nós, público, bandas, e a história, por hora, lamentável de ser contada as futuras gerações.

Fecha a Conta.

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