29 de mar. de 2013

SENTA A PÚA - VAMPIRISMO CULTURAL


O cenário cultural de Boa Vista é reconhecido comumente por sua pluralidade e riqueza de artistas. Quando delimitamos esse universo à música, reconhecemos valores e grandes diamantes brutos sendo lapidados ano após ano em nossa diminuta, porém heterogênea música popular roraimense.

Na década de oitenta o movimento cultural Roraimeira estabeleceu um novo parâmetro sonoro e estético, tornando-se o maior referencial para a produção musical local das gerações que vieram a seguir. A partir da expansão da música do extremo norte através de seus embaixadores e expoentes, a nova geração da música roraimense passou a incorporar em sua música, filosofia e comportamento, as influências desse movimento, como o regionalismo literário – na poesia e letras das músicas – o swing caliente sonoro dos trópicos – através de arranjos musicais fortemente influenciados pela música caribenha – e a estética amazônica – composta de uma diversidade étnica imensa, principalmente recebendo grande influência dos povos indígenas, transformando a música produzida em Roraima num oásis singular surpreendente para ouvidos condicionados a música de massa.

A nova geração da música roraimense goza do privilégio de colher os frutos arduamente plantados e cultivados há pouco mais de trinta anos atrás pelo movimento Roraimeira, e hoje desfruta desse reconhecimento, ainda que pequeno a altura do talento daqueles que anos atrás levantaram a bandeira do orgulho amazônico, num tempo em que Roraima (ainda território federal) tinha pouca, ou nenhuma relevância no cenário cultural do nosso país.

Ao contrário do passado, quando as dificuldades geográficas e econômicas por hora isolaram a produção cultural do extremo norte, hoje há um imenso gargalho para exportarmos a música roraimense, principalmente pela internet, mas não sendo o suficiente para atingir o grande público, nem mesmo o público local, que ainda desconhece grande parte dos artistas locais por preguiça ou mesmo falta de acesso, seja nas rádios, nas tv’s ou shows.

Há em Boa Vista uma recente implantada Secretaria de Cultura, pontos de cultura, coletivos, promotores de eventos, diversas casas de shows, e uma quantidade imensa de pessoas interessadas em consumir esse tipo de conteúdo cultural, porém, o que observamos é que grande parte desses personagens/entidades/grupos/promotores responsáveis pelo fomento e apoio a música roraimense pouco realmente agem de fato para que aconteça verdadeiramente uma valorização viral dos artistas roraimenses. Salvo algumas exceções, a contar nos dedos, a maioria desses personagens preocupam-se mais em estimular seus egos, olhar para o próprio umbigo e fazer pior, castrar as oportunidades do artista roraimense de divulgar sua arte, e vai além, junta meia dúzia destes e formam verdadeiras panelinhas, que isolam, prejudicam e segregam grande parte de todos que fazem parte dessa cadeia cultural.

Infelizmente a política, no seu significado mais podre e corrupto, contamina e degrada violentamente a produção cultural, em especial a música, produzida em Roraima. Não basta ser um artista ou músico talentoso. Para sua arte ser reconhecida e valorizada do ponto de vista do poder público, é necessário que o artista corrompa valores morais básicos, e utilize de manobras ilícitas ou mesmo o famoso puxasaquismo, babaovismo, e todos os “ismos” possíveis e deploráveis que pessoas de má índole utilizam para se beneficiar do capital, apoio e fomento público que deveria ser partilhado por todos.

Enquanto o egocentrismo, disfarçado de termos como “sustentabilidade”, “economia solidária” e todo o blá blá blá que ouvimos sobre “o novo momento da cultura brasileira” continuar contaminando o pensamento livre e realmente revolucionário de nossos artistas, permaneceremos sendo vistos apenas como um  parafuso descartável dessa imensa e nobre engrenagem chamada cultura roraimense.

Os artistas de Roraima precisam urgentemente parar de se prostituir e valorizar sua arte, pois do contrário, continuarão sendo sugados e manipulados por aqueles que se dizem “fomentar a cultura de Roraima” até seu breve descarte, num claro exemplo de vampirismo cultural. Já passou da hora do músico roraimense exigir o que é seu de direito, e ter sua arte sendo divulgada, apoiada, fomentada e valorizada de forma digna, e não sendo utilizada como moeda de troca, de barganha e favor.

Fecha a conta.

2 comentários:

Cesar... disse...

poderiam estimular as rádios, para tocarem as musicas de todos os artistas nas rádios , por exemplo, invés de tocar porcaria de pop descartável que não agrega nenhum valor a produção cultural de Roraima.

minha dica

Fabio Gomes disse...

Quatro anos depois, acredito que as rádios sigam tocando as mesmas coisas né Cesar....